terça-feira, 27 de janeiro de 2009

A Dificuldade de se deixar amar

Acabei de reler «A Mulher Certa» de Sandór Márai, escritor húngaro com grande sucesso de crítica e público, desde a saída em Portugal de «As Velas Ardem Até ao Fim».
Gosto bastante deste livro, mas de cada vez que o leio é maior a estranheza que me provocam as poucas personagens deste romance.O que mais ressalta é, não a dificuldade de amar, mas a dificuldade de se deixar amar.
Ao longo de todo o romance, três pessoas que aparentemente são amadas, vivem com essa incomodidade, acabando por se dilacerar até ao extremo.
Que se passa no interior de tais pessoas ? Insegurança ?
Mas não é o amor o lugar mais seguro, onde podemos encontrar-nos e partilhar plenamente com alguém todas as nossas esperanças,um lugar de dar e receber sem limites e onde finalmente se poder ser inteira ?

Será porque o amor considerado como desejo de partilha e interacção com o outro, também impõe um tipo de vínculo paradoxal : o ser que ama deve-se render ao outro para ser amado livremente. Esse vínculo parece ser demasiado assustador para alguns.

Diz-nos Tobias Brocher em « Da Dificuldade de Amar» :( ... num mundo cada vez mais frio, é uma ousadia estimular o amor. No entanto , esse é o único meio a que podemos deitar a mão, para nos ajudar a derrubar os muros que fomos construindo para nos afastar uns dos dos outros . )

Assim sendo, porquê a dificuldade de se deixar amar ?.
Vou voltar a este livro, de que gosto e que que mexe comigo , mas entretanto alguém me ajuda a perceber, o que leva alguém a agir desta maneira ?
Um abraço nocturno

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Este ano começa mal

É sempre muito difícil ler em jornais ou ter conhecimento por outro qualquer meio, que se foi, alguém que admiramos e , se for muito jovem ainda dói mais.
Quero lembrar a morte de João Aguardela que ontem não assinalei por , estar muito abalada pela morte de uma amiga.
Não sei expressar de uma maneira original, como o João merecia a dor que me provocou tal notícia.
Visitem o club silêncio, está lá a homenagem e tudo o que eu queria ter dito
A noite está cada vez mais escura
Abraço nocturno

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Morreu a Tereza Coelho

Como foi possível ? Por onde andei durante os últimos três dias para só hoje ter sabido que morreu a Tereza Coelho ?
Conheci a Tereza nos seus tempos de jornalista do «Público» e por essa ocasião convivemos bastante e fizemos uma sólida amizade , depois a vida dela foi mudando de lugar, sempre nos livros, mas fomos mantendo o contacto. A Tereza sabia tudo sobre livros, e isso seria p bastante para a admirar, mas além disso, era também uma querida amiga . Ultimamente não fazia crítica , editava livros, sabia dos seus problemas ,sérios, de saúde , mas parecia que, com aquela força inabalável , tinha vencido esse obstáculo. As voltas que a vida dá fizeram com que durante uma parte de 2008 ) entre Junho e Setembro, convivemos quase diariamente e apesar das suas dificuldades, e do seu trabalho cuidadoso ,ela tinha sempre um bocado para conversar comigo e trocarmos algumas lembranças. Depois disso ainda voltei a abraça-la, e, agora ... nada. A Tereza já não está connosco, deixou-nos e partiu para um paraíso onde só há, pela certa, bons livros e bons leitores.
Até sempre Tereza , sei que é aí nesse mesmo cantinho que nos voltaremos a encontrar.
A noite hoje está muito escura.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Porque Gosto da Noite

O 0lhar espraia-se pela noite, prolonga e absorve as linhas escuras do horizonte, aprofundadas pelos pequenos farrapos de luz trazidos pela lua. Lá muito ao fundo está o mar, não o ouço(está tranquilo) mas sei que está lá e isso faz-me bem.
Nesta noite,vista a partir da minha janela, a Terra parece um lugar de paz e tranquilidade , onde não existem olhos frios que nos fitam, censurando aquilo que acham que sabem, serem os nossos pensamentos e forma de estar na vida
Durante o dia estão lá todos ( nós vê-mo-los) todos iguais, tão estupidamente planificados , olhares onde já não vida, nem ternura, nem capacidade de amar o «outro», caminhando respeitosamente para os seus empregozinhos, (sim, eu sei que quando se nasceu sem fortuna ,é preciso trabalhar para viver com dignidade ) . Mas se em vez de se encher de electrodomésticozinhos, carrinhos, as indispensáveis férias no estrangeiro , o ser humano não seria um pouco menos escravo ? Trabalhar para viver e não para sobreviver numa engrenagem que foi feita para o devorar não deixaria a todos um pouco mais de tempo para viver, de desfrutar o mar, a música, as gargalhadas de uma criança . O ser humano chegará um dia a esta fase de quase perfeição, tirando o acessório,e deixando apenas o essencial e a esquecer a odiosa palavra sucesso?
Que tal tomar o trabalho seriamente mas não tomar a sério o «sucesso» que esse trabalho possa ter ?

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Desafio para 2009

Agora que está na moda posar nu para as revistas da especialidade , talvez um bom projecto para 2009 , fosse fazer um striptease da alma.
Tentar deixar cair as máscaras, não esconder as mágoas e as cicatrizes que a vida nos vai trazendo.
Deixar de apresentar sempre um sorriso e de cumprir uma das obrigações que esta sociedade nos impõe: estar sempre feliz.
Lutar pelo direito de mostrar que se está triste, fugir da perfeição, não ter medo de mostrar os nossos defeitos ( afinal são eles que nos tornam mais humanos ) , chegar à conclusão que nada é mais erótico que uma pessoa sincera e verdadeira. Assim conseguiremos momentos de real felicidade.
Que tal fazer um striptease da alma ? É com certeza mais difícil do que tirar roupa, mas compensa.
Fica o desafio.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Canto Geral

Nestes conturbados tempos, não há muita coragem para arriscar, nem sequer nas
leituras e assim,embora com uma nova pilha de livros (abençoadas ofertas de Natal !), prefiro embrenhar-me nos caminhos conhecidos e já pisados. Voltar a um livro que já lemos e nos deu prazer é a minha forma de encontrar paliativos para esquecer um pouco estes nossos governantes, nacionais e os do mundo. Assim, «Canto Geral» de Pablo Neruda vai ser um ameno companheiro das minhas noites
de insónia.
É aquela certeza de encontrar alguém muito conhecido e que parece ter escrito a pensar em nós, e nestes nossos tempos.
Há em tudo isto uma ponta de cobardia, eu sei ...