terça-feira, 26 de maio de 2009

SOLIDÃO

É suposto que a desventura máxima seja a solidão.
Alguns , os crentes, encontram esse reconforto supremo na religião. Para esses a religião consiste em encontrar uma companhia que nunca falhe - Deus.
A oração é um desabafo, como com um amigo.
Nos artistas a sua obra equivale à oração, porque os põe em contacto com os que dela tirarão proveito.
Daí que problema da vida seja, portanto, o seguinte: como romper a nossa solidão, como comunicar com os outros. Assim se explica a existência do matrimónio, da paternidade, das amizades.
Mas que a felicidade resida nisto, é estranho,é estranho que se deva estar melhor comunicando com os outros do que só. E é talvez apenas uma ilusão: a maior parte do tempo, estamos muitíssimo bem, sós. É agradável ler,ouvir música e, sobretudo ter tempo para nós : dado que pedimos aos outros apenas aquilo que já temos em nós. É um mistério o motivo por que não nos basta olhar e beber em nós próprios e seja preciso reavermo-nos por intermédio dos outros.
A amizade é um belo sentimento de partilha , mas deve ser uma coisa natural e não uma procura desesperada por uma companhia. Se não é uma dependência.
Resta o amor, aí parece-nos encontrar a perfeição, e a realização , talvez ilusória uma vez mais ,porque se não gostarmos de nós o suficiente , se não soubermos estar sós e felizes vamos sufocar o outro e isso deixa de ser amor,é posse.
E amar não é possuir.
É ter, e dar ao outro a liberdade de ter, momentos em tenha a possibilidade de poder estar só.
Resta o sexo, e o sexo é um incidente: o que recebemos é momentâneo e casual; pretendemos algo de mais secreto e misterioso de que o sexo , que é apenas um sinal, um símbolo: colmatar a falta de gostarmos de nós próprios.
Assim sendo, qual a explicação para o sentimento viscoso e auto-destruidor, que sentimos quando achamos que estamos sós no mundo e que faz nem sequer termos a certeza de nos encontrarmos no mundo ?


A solidão é como uma chuva.
Ergue-se do mar ao encontro das noites;
de planícies distantes e remotas
sobe ao céu, que sempre a guarda.
E do céu tomba sobre a cidade.

Cai como chuva nas horas ambíguas,
quando todas as vielas se voltam para a manhã
e quando os corpos, que nada encontraram,
desiludiram e tristes se separam;
e quando aqueles que se odeiam
têm de dormir juntos na mesma cama:

então, a solidão vai com os rios...


Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Por Onde Ando ?

Onde Estou ?
N
ão sei por onde ando.

Voltarei, prometo

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Pergunta-me

Pergunta-me
se ainda és o meu fogo
se acendes ainda
o minuto de cinza
se despertas
a ave magoada
que se queda
na árvore do meu sangue

Pergunta-me
se o vento não traz nada
se o vento tudo arrasta
se na quietude do lago
repousaram a fúria
e o tropel de mil cavalos

Pergunta-me
se te voltei a encontrar
de todas as vezes que me detive
junto das pontes enevoadas
e se eras tu quem eu via
na infinita dispersão do meu ser
se eras tu
que reunias pedaços do meu poema
reconstruindo
a folha rasgada
na minha mão descrente

Qualquer coisa
pergunta-me qualquer coisa
uma tolice
um mistério indecifrável
simplesmente
para que eu saiba
que queres ainda saber
para que mesmo sem te responder
saibas o que te quero dizer


Preguiça ? Um certo desânimo ?
Muitas dúvidas por certo . Não sei muito bem o que se passa.
Encontrei na voz do poeta Mia Couto neste poema «Pergunta-me» quase tudo o que me apetecia dizer.
Talvez seja ,também para isso que existem os poetas.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

HIPOCRISIA

Há uns dias, uma pessoa que me é querida, lançou um grito de alma, indignado contra a hipocrisia .Como sempre, achamos todos que o melhor é o desprezo.
Mas, estes conceitos despertaram em mim estas reflexões

Reflectindo sobre a moralidade que reina na sociedade e a suas constante alterações com o tempo,conseguimos facilmente chegar à conclusão que a sociedade esconde suas hipocrisias atrás da máscara da moralidade.


Se olharmos para trás e fizermos qualquer comparação com os dias actuais, rapidamente reparamos como os conceitos morais foram alterados; como as pessoas passaram a aceitar moralmente o que antes era tido como imoral. Uma das grandes provas do amadurecimento humano é a aceitação e abertura ao «novo» ao diferente».
Claro que isso não é possível a mentes tacanhas e a escravos do politicamente correcto.
Até porque não há nada que mais ofenda um reprimido , do que uma pessoa livre.

Alguns compreendem que tais mudanças dizendo ser isto consequência da evolução humana, outros podem dizer que faz parte do amadurecimento da sociedade quebrar determinadas regras, enfim, sempre há uma razão para explicar as alterações, mesmo os que no fundo não estão de acordo , e na sombra ,esperam a oportunidade de ferir quem se atreva a sair daquilo que acham «politicamente» ou «moralmente» correcto. Esses não têm sequer coragem de admitir que o que fazem é apenas uma nova maquilhagem na velha máscara que sempre carregaram.
Esses são a encarnação viva da hipocrisia no seu auge.

Todos nós já ouvimos falar do tempo em que a palavra de um homem, valia mais que um documento assinado. Hoje «aceitamos» que nem já esse documento assinado , seja respeitado.

“A ignorância é vizinha da maldade”, já dizia um provérbio árabe, e assim a massificação de mente e do modo de pensar é mais fácil de ser controlada. A inércia mental produz zumbis culturais e seres hipócritas que se escondem atrás da máscara da moralidade, e que de tempos em tempos, arrumam a convenções com o simples propósito de mostrarem a face asquerosa de perversidades, de egoísmos, de vaidades, de presunções... com uma aparência mais pura e com um poder de persuassão maior.

Sempre temos mais de uma opção para escolher, mas infelizmente a grande maioria escolhe a mais cómoda e não a mais conscientemente correcta. Enquanto muitos adoptarem a regra de não ser quem realmente são, a moral permanecerá sendo o caminho a ser seguido, o deus a ser adorado... e, de quando em quando, um demónio imoral será canonizado em santo moral .

Que fazer perante os hipócritas?
E costume dizer que o desprezo é o melhor remédio. E talvez seja.
Mas, podemos em sã consciência pedir a alguém que foi ofendido, que o ignore ? Podemos ignorar as ofensas que fazem aos nossos amigos ?
Eu acho que não.
Então que fazer, voltar à velha receita de Eça de Queiroz de "umas bengaladas" ?. Este não é um pensamento politicamente correcto,ou sequer aceitável pelas regras de boa convivência em sociedade.
Mas ... se não defendermos os nossos amigos , quem os defende ?

domingo, 3 de maio de 2009

As Provocações já vêm de longe

Georgi Mikhailovich Dimitrov,

(1882-1949): Líder sindical e um dos fundadores do Partido Comunista Búlgaro em 1919. Em 1921 foi eleito para o Comitê Executivo do Comintern. Liderou em 1923 uma fracassada revolta dos trabalhadores brutalmente reprimida pelo governo capitalista. Na ocasião foi condenado à morte mas escapou para a Alemanha. Em 1929 foi eleito para chefiar a secção da Europa Central do Comintern.
Em 1933 foi acusado pelo regime nazista de ter incendiado o prédio do Parlamento Alemão o Reichstag.
Dimitrov fez sua própria defesa e de tal forma enérgica que foi considerado inocente.Tendo ficado praticamente provado que foram os próprios nazis que estiveram na origem do incêndio, como pretexto para perseguir dirigentes comunistas.
Foi então para a União Soviética . Em 1945 com a derrota dos nazistas e a vitória da Revolução na Bulgária, Dimitrov retornou ao país e assumiu o cargo de Primeiro Ministro e em 1946 proclamou a formação da República Popular da Bulgária.

As provocações já vêm de longe , não são nenhuma novidade. As técnicas da vitimização para justificar atitudes menos sérias, para perseguições ou para ou ganhar votos, são antigas e tiveram bons mestres.
O tempo esse , grande escultor,acaba por denunciar todas estas provocações de incipientes alunos, que nem sequer mostram grande inteligência

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Viva o 1ºde Maio , Dia dos Trabalhadores

No dia 1º de Maio de 1886, cerca de 500 mil trabalhadores saíram às ruas de Chicago, nos Estados Unidos, em manifestação ,para exigir a redução da jornada diária de trabalho para oito horas. A polícia reprimiu a manifestação, ferindo e matando dezenas de operários.

Mas os trabalhadores voltaram à rua no dia 5 de Maio do mesmo ano,apenas quatro dias depois da reivindicação de Chicago, os operários voltaram às ruas e foram novamente reprimidos: 8 líderes presos, 4 trabalhadores executados e 3 condenados a prisão perpétua.Mais uma vez parecia uma derrota dos trabalhadores na sua justa luta pelas oito horas de trabalho diário.

Mas luta continuou e alastrou a vários sectores de trabalho.
A solidariedade internacional pressionou o governo americano a anular o falso julgamento dos trabalhadores e a nomear um novo júri, em 1888. Os membros que constituíam o júri reconheceram a inocência dos trabalhadores, culparam o Estado americano e ordenaram que soltassem os 3 presos.

Em 1889 o Congresso Operário Internacional, reunido em Paris, decretou o 1º de Maio, como o Dia Internacional dos Trabalhadores, um dia de luto e de luta. E, em 1890, os trabalhadores americanos conquistaram a jornada de trabalho de oito horas.

Todos estes anos depois das grandiosas manifestações dos operários de Chicago pela luta das oito horas de trabalho e da brutal repressão patronal e policial que se abateu sobre os manifestantes; o 1º de Maio, enquanto jornada de festa e também de luta, mantém todo o seu significado e actualidade.

Nos Estados Unidos da América o Dia do Trabalhador celebra-se em Setembro e é conhecido por "Labor Day". É um feriado nacional que é sempre comemorado na primeira segunda-feira do mês de Setembro e está relacionado com o período das colheitas e com o fim do Verão.

No Canadá este feriado chama-se "Dia de Oito Horas". Tem este nome porque se comemora a vitória da redução do dia de trabalho para oito horas.

Na Europa o "Dia do Trabalhador" comemora-se sempre no dia 1 de Maio.

Em Portugal só depois do dia redentor de 25 de Abril de 1974, é possível festejar o 1º de Maio em liberdade. Mas, mesmo durante a ditadura houve muitas tentativas reprimidas e várias pessoas foram presas ,para que este dia fosse festejado como o dia dos trabalhadores. O Sindicato dos Tipógrafos conseguiu , transformar o 1º de Maio em Dia do Tipógrafo e assim os tipógrafos não trabalhavam neste dia. Sem carácter oficial esta ideia foi alastrando. Eu trabalhei numa editora que no primeiro de Maio fechava sempre, sem dar grandes explicações, quem entendia , entendia , quem não entendia aproveitava na mesma porque um feriado era sempre bom.
Tudo isto para dizer que, mesmo com todas as dificuldades que o nosso país está a atravessar (corrupções, desemprego, autoritarismos etc. ),e outras imperfeições da democracia,não devemos deixar cair os braços , até porque essas imperfeições, não são os militares ou estes governantes que as vão resolver,está nas nossas mãos lutar para que todos tenham direito a um trabalho digno.
No entanto devemos respeitar e festejar na medida das nossas possibilidades, o 1º de Maio, Dia dos Trabalhadores, até para homenagear todos os que tombaram para que tivéssemos esse direito.
Viva o 1º de Maio !