sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Um outro 11 de Setembro

Hoje, por ser 11 de Setembro, todos os Meios de Comunicação Social vão falar do ataque terrorista ao World Trade Center em Manhattan , New York , e de toda a tragédia que ocorreu em 2001 nos Estados Unidos.

Como esse acontecimento vai ser bastante tratado, deixa-me a liberdade de lembrar um outro 11 de Setembro .

O 11 de Setembro de 1973 , data do sangrento golpe de Estado Militar ocorrido no Chile.


Salvador Allende concorreu e perdeu ,por três vezes as eleições presidenciais, em 1952, 1958 e 1964, mas conseguiu ser eleito presidente do Chile em 1970, como candidato de uma coligação de esquerda, a Unidade Popular.
Assim, entrou para a história da política mundial como o primeiro marxista a chegar ao poder através das urnas.

Salvador Allende assumiu a Presidência no dia 3 de Novembro de 1970 e durante seu governo nacionalizou as minas de cobre, a principal riqueza do país. Além disso, passou as minas de carvão e alguns meios de comunicação social para o controle do Estado, aumentou a intervenção nos bancos e fez a reforma agrária, desapropriando grandes extensões de terras improductivas e entregando-as aos camponeses.

Desde que assumiu o poder,Salvador Allende tinha em mente o projecto de construir um "caminho chileno para o socialismo". E isso provocou a oposição, da direita e do governo norte-americano, que uniram suas forças para prejudicar sua política.
Em 4 de Setembro de 1972, Salvador Allende denunciou em vão, nas Nações Unidas, as tentativas norte-americanas de desestabilização do Chile.

Os boicotes da direita, nomeadamente os investidores americanos e dos grandes latifundiários , tornaram a situação económica catastrófica. Os investimentos privados do Chile caíram e aumentaram muito o desemprego . Aproveitando essa situação a direita apoiada pelo Partido Democrata Cristão veio para a rua a protestar em manifestações turbulentas com a paralisação dos transportes e do comércio e com inúmeros atentados, que provocaram apagões e danificaram pontes e oleodutos.
Apesar das graves dificuldades económicas, a Unidade Popular obteve 43% dos votos nas eleições de 1973. Em Junho desse mesmo ano, porém, ocorreu uma frustrada tentativa de golpe de Estado.
Três meses depois, no dia 11 de Setembro, o governo de Salvador Allende foi derrubado pelo exército,por um sangrento golpe de estado militar, liderado pelo general Augusto Pinochet. Bombardeando, inclusivamente o Palácio Presidencial

Decidido a não se entregar , Salvador Allende ter-se-à suicidado na sala da presidência, com um tiro na cabeça . Há quem defenda que ele foi morto pelos militares.
De qualquer modo, naquele dia, aos 65 anos, Salvador Allende tornou-se uma das primeiras vítimas da ditadura militar chilena, que durante 17 anos, deixou milhares de mortos e desaparecidos.

Uma das razões directas do fracasso da "via chilena para o socialismo" deveu-se a situação geopolítica mundial de então, em plena Guerra Fria, com os Estados Unidos envolvidos na Guerra do Vietname, não podendo admitir o nascimento de um segundo regime socialista na sua área de influência, depois de Cuba. Nos anos setenta, na América do Sul inteira, apenas o Chile, a Colômbia e a Venezuela mantinham Estados de Direito, com governantes eleitos pelo povo.
O Brasil, a Argentina, o Paraguai, a Bolívia, o Peru, o Equador e o Uruguai, eram governados por regimes militares, provenientes de golpes de estado , e todos apoiados, por Washington. Além disso as nacionalizações e estatizações adoptadas pela Unidade Popular atacavam directamente os interesses de grandes multinacionais americanas, entre elas a então poderosa ITT, que passou a pressionar o governo Nixon "a tomar providências".
Um memorando interno da ITT detalhava os planos norte americanos: "A esperança mais realista dentre aqueles que desejam destituir Salvador Allende é que uma rápida deterioração da economia provoque uma onda de violência que provoque um golpe militar".

Fica assim, lembrado um outro 11 de Setembro, igualmente dramático.

6 comentários:

Vicktor Reis disse...

Querida Nocturna

Igualmente dramático e deveras preocupante...

Da leitura atenta do que escreveste encontramos muitas semelhanças com a situação catastrófica a que Portugal foi conduzido pelos diversos governos... manipulados pelas mesmas entidades e pelo mesmo tipo de entidades que conduziram o Chile de Allende e do Povo a uma situação de não retorno.

Um bom alerta que aqui deixas... nunca é demais "avisar a malta".

Beijinhos.

João Roque disse...

Acabei agora mesmo de falar neste outro 11 de Setembro, num comentário no blog "O bom ladrão".
Infelizmente, esta data de 1973 está um pouco "eclipsada" pela de 2001, mas jamais deverá ser esquecida.
Beijito.

Maria disse...

E porque a maioria da blogosfera lembrou o outro 11 de Setembro, eu fiz questão em lembrar este. O do Chile. O dia em que Allende foi assassinado (e não, ele não se suicidou...)

Um beijo

Elvira Carvalho disse...

Excelente poste. Ontem encontrei vários blogues a lembrar o outro 11 de Setembro, e em todos eles deixei no meu comentário o 11 de Setembro do Chile. Que levou a uma ditadura sangrenta que fez milhares de mortos e outros tantos desaparecidos. Com o apoio de quem? Do governo americano.
Com todo o respeito que me merecem as inocentes vitimas das torres, a verdade é que este atentado eclipsou o outro 11 de Setembro, e desviaram as atenções dos muitos atropelos do governo americano, não só no Chile, mas também no Vietname, e em outros países.
Um abraço e bom fim de semana
E as vitimas chilenas são seres humanos como as americanas.

Carametade disse...

Deixei-te uns "mimos" lá no meu blog.
Abraço

samuel disse...

Belo post!

Abreijo.