terça-feira, 22 de junho de 2010

José Saramago : ... hoje estamos cá e amanhã não estamos .

Morreu José Saramago.
Não morreu o escritor, que esse não morre e há de ser lido e relido e reinventado por milhares de leitores , ao longo dos tempos, pelo mundo fora.

Morreu uma voz clara e límpida , que a partir de hoje só poderá ser ouvida pelo que já disse , mas não mais intervirá, levantando-se a contra as injustiças do mundo .
E vai fazer falta , porque essa voz presente, ousada, quase sempre polémica, tinha a beleza e a força dos que nasceram para desassossegar, abalar ,desentorpecer. Os Índios de Chiappas, os Sem-Terra do Brasil, Os Palestinianos desapossados da sua terra e de todos os seus direitos à vida, sentirão muito mais do que os portugueses, a falta dessa voz que sempre esteve ao lado deles.
Repetir que foi um grande escritor é uma inutilidade. Muitos gostam da sua obra e outros tantos não gostam, e mais do que ninguém, José Saramago detestava as unanimidades. Não precisávamos de estar sempre de acordo com ele, nem gostar de todos os seus livros. Bastava compreende-lo e às suas razões.
Dizer que era um grande escritor universal é repetir o que já foi dito e é quase um lugar-comum.
Mas personagens como João Mau-Tempo esse herói colectivo que levou ao mundo toda a luta dos camponeses alentejanos ; Blimunda e Baltazar , que nos anima a não desistir do sonho criador ; O Cão das Lágrimas, que conforta a mulher que já não quer ver mais até onde pode ir a maldade humana ,e até o humilde revisor tipográfico que decide introduzir um "não" e com isso mudar completamente o fio a História de Portugal, são exemplos de uma galeria de personagens, espalhadas por esse mundo e , serão um rasto de luz que nos acompanhará toda a vida, mostram a enorme capacidade criadora deste Homem , tão português e tão universal, e universal ,exactamente porque tão português.
Alguns de nós também perdemos um Amigo, e esse é o vazio mais difícil de preencher.
Pudesse eu ter o poder de dizer à morte para não entregar a carta violeta, metáfora de que José Saramago se serviu no romance "As Intermitências da Morte " ...
Mas tal como o próprio dizia " ...hoje estamos cá e amanhã não estamos ".

5 comentários:

João Roque disse...

Deixo-te um beijinho muito carinhoso; quanto a Saramago...que descanse em paz.

paulo disse...

forma tão lúcida de encarar o dobrar da vida: " ...hoje estamos cá e amanhã não estamos". e que acontece depois? depois, nada? se calhar, ele tinha razão: nada. mas espero que não!

gostei muito da tua homenagem!
abraços

Nocturna disse...

Venho pedir desculpa a quem deixou aquium comentário, e que eu inadvertidamente apaguei. Nao me lembro quer era. Foi um gesto muito rápido. Mesmo sem saber a quem, aqui estou a pedir desculpa. Volte quando quizer. JURO que não repito o disparate.
Ubrigada pela visita.
Um abraço
Nocturna

Rui Pais disse...

Só para deixar um beijinho. Acabei por descobrir e gostei. Vou voltar e seguir (se aprender como se faz)

air max nike disse...
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