quinta-feira, 19 de março de 2009

Um Livro Perturbador

Acabei de ler o livro " O Leitor" de Bernhard Schlink. Foi a leitura de algumas notas acerca do livro que procurei, a propósito da exibição do filme,com o mesmo nome, que despertou eu mim a curiosidade por este livro.
Em 1960, Michel Berg é iniciado no amor por Hanna Scmitz. Ele tem 15 anos, ela 36. Ele é apenas um adolescente. Ela é uma mulher madura, bela e autoritária. Os seus encontros decorrem como um ritual: primeiro banham-se, depois ele lê, ela escuta e finalmente fazem amor. Mas este período de felicidade incerta tem um fim abrupto quando Hanna desaparece subitamente.Michael só a encontrará muitos anos amais tarde, envolvida num processo de acusação a ex-guardas dos campos de concentração nazis.
Está história não tem nada de extraordinário , quando situado na Alemanha pós-nazi. Mas desperta uma perturbadora reflexão acerca da incomodidade de uma geração(adolescentes e pré adolescentes nos anos 60).Como é possível viver com tal passado envolvendo toda a geração dos pais ?Podemos julgar os carrascos do nazismo,(uma centena, talvez ?) mas uma tal atrocidade não seria possível se toda uma população não tivesse colaborado, por medo por omissão, fazendo de conta que não sabia .
Sabemos que na Alemanha preferiram nunca falar do assunto.
Mas como é que os filhos encaram os pais ? Ao saber o que se passou ,é possível passar a odiar-se os pais, por não se terem oposto ao nazismo ?
A História é sempre escrita pelos vitoriosos. Mas faz sentido julgar guardas de campos de concentração,quando o cheiro do fumo que saía dos fornos crematórios invadia todas as aldeias vizinhas ? E toda a população sabia do que se tratava (o cheiro a carne a queimar é inconfundível).Havia algumas vivendas que tinham vista sobre os campos de concentração ( Dachau é um deles).
Pensando em tudo isto e comparando, embora levemente com Portugal, será que não está aí a razão daquilo que nós dizemos: que os jovens não têm princípios. O salazarismo foi em Portugal, sobretudo a partir dos anos cinquenta, uma coisa mais ligeira.Mas estava aí e tinha várias formas de violência.
Será que se os portugueses na sua maioria não tivessem colaborado, por medo por submissões, por vontade de estar sempre do lado mais forte e por fingir que não sabiam o que se passava, Salazar ter-se-ia aguentado quase cinquenta anos? Que moral é que os pais têm para passar bons princípios aos seus filhos ?
A pergunta aqui fica. Mas também a convicção de que tudo devemos fazer para defender a democracia, mesmo com todos os seus defeitos e evitar o aparecimento de demagogos hipócritas,intransigentes salvadores da Pátria e dos "valores da família",que não salvam nada e sempre acabam mal e deixam marcas durante mais de uma geração.
Ainda vou voltar a este livro perturbador .

8 comentários:

Pata Negra disse...

Ela tem 15 anos, ele 36. Ele é apenas um adolescente. Ela é uma mulher madura, bela e autoritária. Podia ser assim?! Não foi! Somos ainda consequência do tempo desses "ismos", para o bem quando estamos acordados, para o mal quando estamos adormecidos. Este país continua sonolento. É diferente agora, são outros os tempos mas esta passividade não augura nada de bom!
Um abraço muito preocupado com o regime

Cotovia disse...

...já somos duas perdidas na noite...

Gosto da tua capacidade crítica.

Justine disse...

Livro perturbador, sim, filme que honra o livro em que se baseia. E muitas, inúmeras perguntas que ficam sem resposta, nesta nossa época pós-tudo( e pré o quê?).
Fica a concordância contigo de que quem não luta contra é cúmplice,e de que é necessário, sempre, defender a democracia, por mais imperfeita que ela seja.
Abraço

Arábica disse...

Obrigada pela visita que foi ponte para me trazer junto a ti.

Concordo plenamente contigo e pergunto: não fora tanta falta de cultura, tanta ignorância e teriam eles conseguido marcar o rumo da História?


Lembras-te das campanhas de alfabetização em Portugal pós 25 de Abril?

A democracia vale todos os nossos esforços.


Um abraço


PS_eu acredito que existe um camponês em muitos dos lisboetas. Memórias de outros tempos, muitas vezes perpetuados em palavras.

E quem não tem alma de camponês, terá talvez, alma de marinheiro.

:)

Paula disse...

O Leitor, foi dos melhores livros que li em 2009. Emocionei-me. A meu ver, o escritor, conseguiu transmitir de forma magnífica todas emoções na sua escrita. Vi o filme e, claro, prefiro o livro.

Obrigado pelos comentários no meu blog e pelos vistos, temos mesmo muitas afinidades em relação à leitura. A propósito, se ainda não leste Firmin, tens de o ler. Vais adorar!!

Bjs

Unknown disse...

Atua excelente capacidade de crítica e análise convenceram-me...vou ler também...o teu texto escorre lento e fluido. Uma bela recensão crítica.

pedro polonio disse...

lembras-te do que conversámos sobre a alemanha do pós-guerra?
este naco de texto vinha no ipsilon da semana passada: «bernard schlink & w.g.sebald são, de facto, as duas vozes mais interrogativas (...) da literatura alemã, a chamada "segunda geração" (pós geração günter grass), que melhor mostram os sentimentos daqueles que, não tendo vivido a guerra, nasceram durante o caos.»
foi escrito pelo josé riço direitinho.

poetaeusou . . . disse...

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vou tentar lê-lo,
darei a minha opinião,
,
conchinhas, deixo,
,
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